Menu
Busca segunda, 08 de dezembro de 2025

Advogados falam da paixão pela carreira

11 agosto 2011 - 23h30

Ricardo Trad (no meio), e seus filhos José e Assaf, os três advogados.Dia 11 de agosto é a data da lei de criação dos cursos jurídicos no Brasil e, por isso, é o Dia do Advogado. Para seguir carreira jurídica, para prestar concursos, para seguir familiares, por paixão, enfim, pelos mais variados motivos, o curso de Direito é um dos mais concorridos nas universidades de todo o país, e insere ano a ano milhares de profissionais no mercado de trabalho.


O advogado Isauro Rosa de Oliveira Júnior, de 35 anos, garante que nunca se viu em outra profissão. "Eu sempre quis ser advogado. Começou com um desejo por querer seguir minha família, primeiramente com meu pai, depois minha mãe e agora eu também sou advogado. Estou estudando e me preparando para daqui a algum tempo tentar magistratura, única e exclusivamente por gostar da área trabalhista, mas me sinto feliz e realizado em ser advogado”, afirma.


Mesmo com as dificuldades da profissão, Isauro Júnior não gostaria de ter feito diferente. "No início é difícil, mas estou contente. Desde pequeno ouvi falar na profissão, já que meu pai era advogado. Meu primeiro vestibular foi para odontologia, na cidade de Presidente Prudente. Acabei fazendo Direito e não me arrependi. A vida é difícil para todo mundo, mas quem encara com naturalidade, persistência e perseverança, atinge seus objetivos", garante.


Formado desde 2002, o advogado Fábio Castro Leandro, relata que nunca quis exercer outra profissão, que a advocacia é um sonho de criança. "O advogado é indispensável para a sociedade, justamente porque todo cidadão, bom ou ruim, certo ou errado, tem direito a uma defesa. Nem sempre é para absolver, mas com certeza garante uma pena justa”, afirmou o advogado que é também professor da Universidade Católica Dom Bosco.


Experiência e dedicação


Nome expressivo em Mato Grosso do Sul, Ricardo Trad fez o curso de direito no Rio de Janeiro e se formou no ano de 1968. No governo de Pedro Pedrossian, quando o Estado ainda era uno, Trad foi Secretário de Indústria e Comércio por dois anos, mas em 1971 começou a advogar e descobriu a sua forte e verdadeira vocação.


Como é tradicional e costumeiro de quem carrega este sobrenome, Ricardo Trad também já se envolveu em uma breve, mas vitoriosa passagem pela política. Ele foi candidato e eleito vereador em Campo Grande, onde exerceu um mandato de seis anos na época. No entanto, depois disso, Trad voltou a seguir o caminho da advocacia, e não quis mais saber de candidaturas. “Eu não quis mais ser candidato, por vocação, vim para o meu escritório”.


Por volta de 1977 Ricardo Trad passou a advogar na área em que o seu nome é referência, advocacia criminalista. A carreira que é alvo de preconceito e incompreensão, fez com que Trad conquistasse respeito e sucesso. Ele já atuou em mais de 300 júris, muitos, casos de repercussão na mídia. “Tenho casos que viraram matéria abordada em livro, como o do João de Deus, que envolveu uma carta psicografada por Chico Xavier. Fiz um sacerdócio da minha vida profissional”, afirmou o advogado.


Trad, hoje, tem um escritório renomado na cidade e trabalha junto de seus cinco filhos, também formados em Direito. Recentemente, atuou de forma brilhante no “Caso Zeolla”, com seu filho Assaf Trad. “O júri é o momento mais dramático da vida de um advogado criminalista. Por maior que seja a experiência, as pernas tremem e o coração acelera. Isto, porque a liberdade daquela pessoa, está em minhas mãos”, disse Trad. Ele contou que na década de 80, ao sair do julgamento de João de Deus, a emoção foi tão forte que teve problemas cardíacos, e foi para São Paulo, onde passou por uma cirurgia de ponte de safena.


O experiente advogado atribui o seu sucesso profissional e a boa educação de seus filhos, também à dedicação de sua esposa, a psicóloga Tânia Trad. “Sem ela não conseguiríamos alcançar esse sucesso. Nesta quarta fui homenageado na OAB, na Conferência de Advogados no Palácio Popular da Cultura, na presença da ministra do STF”, comentou orgulhso. Trad também afirmou que nunca pediu, e nem ao menos sugeriu aos filhos, que seguissem sua carreira, mas que fica feliz por isso.


Católico, Ricardo Trad lembra que a carta dos advogados “praticamente obriga” o advogado a não se recusar para fazer a defesa em casos criminais. Ele também destacou o que costuma dizer quando faz a defesa em um caso de homicídio. “Nós, pessoas de bem, podemos dizer que nunca vamos cometer um crime de tráfico ou de roubo. Mas ninguém pode dizer que um dia uma pessoa não pode se tornar homicida”, disse Trad lembrando dos motivos que pode levar alguém a matar outra pessoa, como legítima defesa e forte emoção. “Você deve analisar o comportamento da vítima, até onde ela contribuiu para que isso acontecesse”, explicou.


Embora acreditar na afirmação de Rui Barbosa, em que todos têm direito à defesa, Trad afirma que recusa e já recusou diversas causas. “Eu, em minha vida, recusei muitos processos criminais por fé e consciência. Casos de estupro me machucariam muito, latrocínio me repele a confiança”, comentou. Em quase 40 anos de advocacia, Ricardo Trad teve mais de 80% de sucesso em suas defesas. “Um advogado nem sempre luta por uma absolvição, mas uma pena menor pode ser uma recompensa grande para um advogado em um caso grave”.


A frase final da entrevista, com o advogado Ricardo Trad, transparece todo seu orgulho e paixão pela profissão que preenche sua vida em uma trajetória de conquistas. “Se eu morrer um dia, e eu vou morrer. Devo morrer na minha mesa, com a minha beca, porque foi a beca que me levou a educar meus cinco filhos com minha mulher, e se a minha beca me abriu as portas para o sucesso, com ela, Jesus deverá me abrir as portas do céu”.


Caso João de Deus


O caso que Ricardo Trad citou durante entrevista ao MSREPÓRTER, ocorreu em Campo Grande, em 1980.


João Francisco de Deus foi réu de uma causa complicada, em que estava sendo acusado de matar a esposa, Gleide Maria Dutra, com um tiro que havia disparado acidentalmente de sua arma.


O casal entrou dentro de casa, voltando de uma festa acompanhados de amigos, e João de Deus queria pegar sua arma (ele possuía um revólver por ser tesoureiro da agência de crédito). Depois de alguns minutos, os dois amigos, que tinham ficado no carro, ouviram um disparo e gritos de socorro. João saiu carregando a mulher e dirigiu-se a um hospital, onde Gleide permaneceu internada, vindo a falecer posteriormente.


“O que ocorreu dentro da casa foi que João pegou a arma e acidentalmente acabou disparando-a enquanto tentava tirar o plástico que a envolvia. Gleide, que estava sentada na cama, acabou sendo atingida na base da garganta”, conta Ricardo Trad. “Foi declarada a prisão preventiva do réu, que chegou a tentar o suicídio na cadeia. Consegui o habeas corpus de João e, tão logo foi posto em liberdade, ele viajou a Uberaba, onde quatro mensagens de Gleide foram recebidas: três psicografadas por Chico Xavier e uma por Maria Edwiges, diretora do hospital em que a vítima estivera internada”, acrescenta o advogado.


Em todas as cartas, o espírito descrevia a vida conjugal do casal e fazia um relato pormenorizado da noite fatídica, confirmando que o disparo do revólver havia sido acidental. Além das mensagens psicografadas, a favor do réu também pesaram os testemunhos de quatro enfermeiros do hospital, que afirmaram que a própria Gleide havia defendido a inocência do marido enquanto esteve internada.


“O caso foi submetido a julgamento e o júri absolveu o réu da acusação de homicídio doloso por sete votos a zero. A promotoria, no entanto, recorreu da decisão, uma vez que o próprio João confessou descuido na hora de manusear a arma. A acusação passou a ser de homicídio culposo”, apontou Ricardo Trad. O réu não chegou a ser preso, pois a pena prescreveu.


 


Ana Maria Assis (com colaboração de Ceyd Moreles, Camila Bertagnolli e site Tríada)

Deixe seu Comentário

Leia Também

Com trabalho e estudo, atuação do Governo de MS
Com presença de Frei Gilson, Governo de MS celebra 90 anos da Paróquia Nossa Senhora da Conceição
Modernização e qualidade:
Quatro projetos devem ser votados pelos deputados na sessão desta terça-feira