A taxa de câmbio doméstica avançou 2% em três dias consecutivos de alta, num reflexo do aumento da aversão ao risco nos mercados, e o do estreitamento dos negócios na praça financeira doméstica.
"Há uma pressão de saída com uma escassa pressão de entrada no mercado", sintetiza o diretor da corretora Treviso, Reginaldo Galhardo, lembrando que o período atual é marcado por operações de pagamento de dividendos e remessas de lucro para o exterior por algumas companhias.
Nesse contexto, o dólar comercial encerrou o expediente na marca de R$ 1,605, em alta de 1%, o que não ocorria há quase 30 dias, bem próximo do valor máximo (R$ 1,609) registrado hoje. O dólar turismo, por sua vez, foi vendido por R$ 1,720 e comprado por R$ 1,590 nas casas de câmbio paulistas.
Ainda operando, a Bovespa sofre perdas de 0,93%, aos 63.722 pontos. O giro financeiro é de R$ 6 bilhões. Nos EUA, a Bolsa de Nova York cai 0,65%.
Operadores das mesas de câmbio têm destacado o enxugamento da oferta de dólares no mercado, sem que o Banco Central tenha suspendido sua prática diária de comprar as "sobras" do mercado.
Números divulgados hoje pela autoridade monetária confirmam essa percepção: o chamado fluxo cambial do país --a diferença entre os dólares que entram e saem por meio de operações financeiras e comerciais- continua positivo, mas contraiu fortemente entre março e abril.
O saldo foi de US$ 1,5 bilhão em abril, um número 87% menor que a cifra registrada em março, o que já mostra o impacto das medidas do governo para restringir a enxurrada de dólares para o país.
O total de dólares adquirido pela autoridade monetária caiu entre março e abril, mas ainda permaneceu alto: foram US$ 5,4 bilhões comprados junto a agentes financeiros no mês passado, ante US$ 8,4 bilhões no período anterior, somente no mercado à vista.
"O que não acontecendo não é somente efeito das medidas do governo. Nós estamos vivendo um cenário de maior aversão a risco, com os problemas dos países europeus, e alguns números mais desfavoráveis sobre a economia dos EUA. Você veja que o acordo fechado com Portugal praticamente não influenciou em nada hoje", comenta Reginaldo Galhardo, da Treviso.
O profissional lembra ainda que o mercado não tirou do radar as possíveis consequências geopolíticas do morte do líder terrorista Osama Bin Laden, o que ajuda a elevar o nervosismo de uma parcela dos agentes financeiros.
Uma dos efeitos mais explícitos dessa falta de apetite por risco dos investidores é a "sangria" de capital externa Bolsa de Valores brasileira: as vendas de ações superaram as compras por mais de R$ 1 bilhão no primeiro quadrimestre.
Ele, por enquanto, não acredita que o dólar oscile muito acima de R$ 1,60 no curto prazo. "Acho que o dólar ainda deve oscilar entre R$ 1,55 e R$ 1,60. Nós não devemos esquecer o dólar atravessa uma tendência de de desvalorização que é mundial", acrescenta.
JUROS FUTUROS
No mercado de juros futuros, as taxas negociadas seguem praticamente estáveis nesses primeiros expedientes de maio.
Para julho, a taxa prevista foi mantida em 11,99% ao ano; para janeiro de 2012, a taxa projetada passou de 12,33% para 12,34%. E no contrato para janeiro de 2013, a taxa prevista variou de 12,68% para 12,69%. Esses números são preliminares e estão sujeitos a ajustes.
Helton Verão/Folha Online