Em vez da proibição à venda de alguns inibidores de apetite (sibutramina e anorexígenos anfetamínicos), a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) defende reforço na fiscalização para coibir a prescrição incorreta, abusiva e antiética dessa medicação.
De acordo com a diretora do Departamento de Obesidade e Síndrome Metabólica da entidade, Rosana Bento Radominski, o uso de medicamento pode ser inevitável quando a mudança de estilo de vida do paciente, com a introdução de reeducação alimentar e a prática de atividades físicas, é insuficiente para combater o sobrepeso ou a obesidade.
A endocrinologista participou de audiência pública sobre o assunto, realizada na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), nesta segunda-feira (2).
Rosana Radominski questiona o fato de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se amparar num estudo com alegado alcance restrito para propor a retirada desses medicamentos do mercado.
O levantamento, segundo a médica, apontou maior risco de incidentes cardiovasculares em pacientes obesos cardíacos, diabéticos ou portadores das duas condições tratados com sibutramina.
Mas, em seu ponto de vista, não é razoável extrapolar resultados obtidos em uma população de cardiopatas para pacientes sem doença cardiovascular.
A endocrinologia brasileira está apreensiva com as graves consequências da retirada desses medicamentos para os pacientes que os vêm utilizando com sucesso.
A retirada do mercado estimulará o mercado negro de medicamentos e a prescrição fora da indicação de bula - advertiu Rosana Radominski.
Cautela
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) não fechou posição contra ou a favor da recomendação da Anvisa, mas seu representante na audiência pública ponderou que, sempre que a eficácia de uma medicação gera dúvidas, é preciso ter cautela na orientação sobre seu uso.
O cardiologista Geniberto Paiva Campos observou que a prescrição de inibidores de apetite se torna polêmica pelos efeitos adversos - notadamente problemas cardiovasculares - associados ao seu uso.
Com base em dados do Censo 2010, a SBEM estima em 90 milhões os brasileiros com sobrepeso (50% da população), dos quais 30 milhões são portadores de obesidade.
Rosana Radominski informou ainda que a redução de 5% a 10% no peso do paciente tem impacto significativo na diminuição dos fatores de risco para o surgimento de diabetes e doenças cardiovasculares.
Ao final do evento, o presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS), prometeu prosseguir com a discussão em outra audiência pública, já marcada para o dia 31 de maio, às 9h.
A reunião deverá ser realizada em conjunto com duas subcomissões vinculadas à Comissão de Assuntos Sociais (CAS): de Emprego e Previdência e de Saúde.(Agência Senado)