Desde a sua estreia, sob a bênção jobiniana, em 1972, num disco compacto que tinha "Agnus sei" de um lado e "Águas de março" de outro, João Bosco completou mais de 40 anos de carreira. Esse show, uma das atrações da 15ª edição do Festival de Inverno de Bonito, celebra a trajetória recheada de sucessos desse que é um dos maiores compositores da música popular brasileira.
O cantor e compositor mineiro sobe ao palco da Grande Tenda às 22 horas, do dia 31 de julho, e a noite promete o melhor do MPB (logo após sua apresentação sobe ao palco Maria Rita com seu “Coração a Batucar”). A programação de shows começa às 19 horas, no Palco Fala Bonito, com os sul-mato-grossenses Simão Gandhy Trio, Giani Torres e Juci Ibanez.
O FestInBonito, promovido pelo governo do Estado, acontece de 30 de julho a 3 de agosto e receberá as mais variadas expressões artísticas, com shows nacionais imperdíveis, grupos regionais, teatro, dança, artes plásticas, cinema, circo, artesanato e muito mais. Este ano, o grande homenageado é o rio Formoso, que inspira toda a beleza de Bonito.
Como nos anos anteriores, o evento contará com grande estrutura como a Grande Tenda de shows com dois palcos, túnel cenográfico, espaço cênico e recursos de projeção mapeada, além de instalações, pavilhão de artesanato e Mostra de Design e Moda de Mato Grosso do Sul. A cerimônia de abertura, no dia 30, terá dois shows, com Delinha e Perla.
Quarenta anos depois
O ano de 2012 foi muito especial para João Bosco. Em CD e DVD ele reuniu sucessos de seu repertório e vários convidados especiais, como Chico Buarque, Mílton Nascimento, João Donato, Roberta Sá, Toninho Horta, Trio Madeira do Brasil e Cristóvão Bastos. Ainda neste ano, o cantor foi o grande homenageado do 23º Prêmio da Música Brasileira.
Como no poema de Drummond, pode-se dizer que João Bosco atinge a marca na seguinte situação: “quarenta anos e nenhum problema/resolvido”. Mas muitos problemas colocados com originalidade e maestria. São esses problemas musicais que ele reuniu e aprofundou nesses CD e DVD que lançou em comemoração à efeméride.
Para começar por um de seus traços fundamentais, João Bosco é a um tempo homem-música e homem-canção. Essa tensão entre a canção (relação irredutível entre melodia e letra) e a música (tudo o que excede essa relação) atravessa a sua obra, se manifestando com muita força após a interrupção da parceria com Aldir Blanc. Em seu último disco, “Não vou pro céu, mas já não vivo no chão”, Bosco realiza um rigoroso trabalho de reduzir essa tensão à canção pura: sem ornamentos, com canto despojado, só o osso.
Da perspectiva da geografia – ou dos gêneros -, os 40 anos da obra de João Bosco também se acham muito bem representados. O mineiro mais carioca da música popular é talvez o único que pode cantar, que pode ser ao mesmo tempo a densidade barroca das Gerais e a superfície escorregadia da Estácio. Uma e outra marcam forte presença nesse trabalho ao revisar toda a obra.
A alma barroca inaugura o disco – e está presente no show -, com “Agnus sei”. O samba carioca o perpassa, com “O mestre sala dos mares”, “De frente pro crime”, entre outras. O bolero latino-americano, que fez os ouvidos da geração dos 40/50, também comparece no clássico bolero-acalanto de Bola de Nieve, “Drume negrita”. Em suma, 40 anos e nenhum problema resolvido. Mas muito brilhantemente formulados.