uma das mais tradicionais da Rede Pública, onde atualmente estudam 315 alunos do ensino médio em período integral e mais 17 da educação especial.
A iniciativa faz parte do Projeto “Transforme”, uma colaboração entre a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário), o Ministério Público Estadual e instituições de ensino superior como a UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e a Estácio de Sá, além do apoio da SED (Secretaria de Estado de Educação). Idealizado pela promotora Jiskia Sandri Trentin, da 50ª Promotoria de Justiça, é inspirado no Projeto “Alquimia II”, do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Os celulares, apreendidos por policiais penais durante revistas e arremessos em presídios, passam por um rigoroso processo de investigação e inteligência antes de serem repassados ao projeto, com autorização da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande e da Vara de Execução Penal do Interior. Após serem formatados e higienizados pelas universidades parceiras, os aparelhos são então entregues às escolas que os solicitam, como no caso da Escola Estadual Lúcia Martins Coelho que fez o pedido e recebeu 50 celulares.
“Acreditamos que esta parceria em prol do ensino público pode render muitos frutos”, afirma o diretor-presidente da Agepen, Rodrigo Rossi Maiorchini. “A educação é um esforço coletivo e iniciativas como essa evidenciam como a colaboração pode fazer a diferença, promovendo a inclusão digital”, complementa.
Para o dirigente, o projeto não só representa um avanço na utilização de recursos tecnológicos nas escolas, mas também demonstra como iniciativas inovadoras podem criar oportunidades valiosas para a educação.
Diretor da Escola Lúcia Martins Coelho há cinco anos, Márcio Beretta Cossato foi quem procurou a Agepen para que a escola fosse beneficiada com o projeto. “Foi um ganho significativo, pois os celulares servirão para pesquisas e, de acordo com nosso regimento, serão usados apenas para fins pedagógicos. Muitos alunos não têm acesso a celulares ou internet, e com esses dispositivos, poderemos oferecer uma educação mais igualitária e rica”, comenta.
Segundo o diretor, a integração dos celulares no ambiente complementa a utilização de computadores, já que a escola dispõe de 18 máquinas para uma média de 30 alunos por sala e isso irá ampliar as possibilidades aos professores. “Os celulares permitirão que cada aluno tenha acesso individual à internet e aos recursos digitais, melhorando a qualidade do aprendizado”, informa.
Os aparelhos são utilizados de forma planejada pelos professores, integrados ao planejamento pedagógico e à coordenadora de Práticas Inovadoras, Sabrina Rodrigues Marques. Conectados à rede wi-fi da escola, eles podem ser usados em diferentes disciplinas para enriquecer as aulas.
A professora Ruth Bobadilha, que leciona Espanhol, já está aproveitando os novos recursos. “Os celulares estão sendo muito úteis para pesquisas e atividades em sala de aula. Nossos alunos, que são uma geração tecnológica, precisam desse tipo de interação para complementar seu aprendizado. A tecnologia melhora significativamente a dinâmica das aulas”, defende.
Cursando o 1º ano do Ensino Médio, a estudante Ana Clara Pirani, 15 anos, também comemorou a chegada dos celulares: “Hoje, estamos usando os aparelhos em aulas de Espanhol para explorar temas como falsos cognatos. É muito interessante e facilita muito nosso aprendizado. Agradecemos muito por essa oportunidade”, comenta.
De acordo com a promotora de Justiça Jiskia Sandri Trentin, além desses 50 aparelhos doados à Escola Lúcia Martins Coelho, já foram repassados à Semed (Secretaria Municipal de Educação) 744 celulares destinados aos alunos das escolas públicas municipais de Campo Grande. “Atualmente, temos 143 celulares prontos para serem doados e outros 2.070 cuja doação já foi autorizada pela 1ª VEP e 1ª VEPin, para serem formatados pelas universidades parceiras”, informa a promotora.
A idealizadora do projeto garante estar muito feliz com os resultados alcançados. “Começamos esse trabalho durante a pandemia, para auxiliar os alunos menos favorecidos economicamente a continuarem seus estudos, e não paramos de dar utilidade a aparelhos celulares apreendidos em presídios que iriam para destruição, isso com o precioso auxílio das instituições de ensino superior parceiras, que através de seus alunos puderam preparar os aparelhos para a reutilização pelo Projeto Transforme”, ressalta Jiskia.
A promotora pontua, ainda, que a iniciativa acabou inspirando a elaboração do Projeto de Lei Federal n. 1906/2021, em trâmite no Congresso Nacional, que prevê a alteração da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), a fim de que os aparelhos telefônicos apreendidos dentro dos estabelecimentos prisionais em todo o país sejam doados a alunos da rede pública de ensino.